O Cinema em 2014: Os Melhores e O Ranking

Os 14 melhores filmes e o ranking geral de 2014.

Os Quadrinhos em 2014: Alguns Destaques

Os gibis que marcaram o ano à sua maneira.

O Cinema em 2014: As Bombas e Decepções

Os 15 filmes que só fizeram chorar.

A Música em 2014: Os Melhores e Os Piores

Os álbuns que marcaram o ano - para bem ou para mal.

O Cinema em 2014: As Boas Surpresas

Os 11 filmes que mandaram bem, apesar de tudo.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Primeiras Impressões: Dark Horse Apresenta

Peculiar e com formato estadunidense, título é uma iniciativa interessante da HQM com a Dark Horse no país

Por Pedro Strazza

Embora o Brasil esteja vivendo uma ótima fase na área de quadrinhos, ainda há muito a ser feito. Além do já tradicional atraso de publicação e de preços extremamente salgados, obras e revistas importantes e reconhecidas lá fora nunca conseguiram botar os pés em terras brasileiras devido justamente ao estágio primário em que o mercado tupiniquim se situa. Editoras estadunidenses e européias, assim, têm dificuldades absurdas para vender seus produtos por aqui, e o leitor brasileiro é obrigado a pagar mais caro para obter uma cópia original de tal história.
Mas há quem tente mudar esse panorama, e os maiores representantes desta tendência são a Mythos e a HQM. Trabalhando em um mercado amplamente dominado pela Panini (e seus direitos de publicação sobre Marvel e DC Comics), essas duas editoras estão aos poucos trazendo para o Brasil as editoras estrangeiras rivais das duas maiores potências dos quadrinhos estadunidenses, criando dessa forma opções para este público crescente que é o "país do futebol". Graças à essas duas, empresas como a Dynamite, a Valliant e a Image Comics, por exemplo, só agora começaram a sair por aqui - Esta última, inclusive, só teve de produto lançado a consagrada, reverenciada e premiada The Walking Dead, a série de Robert Kirkman que deu base para a série de TV homônima.
A essas editoras, se junta agora também a tradicional Dark Horse, responsável pela publicação do Hellboy de Mike Mignola e sumida no país já há algum tempo. Encarregada de tentar estabelecer novamente a empresa por aqui, a HQM resolveu lançar a cultuada Dark Horse Presents (por aqui traduzida como Dark Horse Apresenta), revista que voltou a ser publicada nos Estados Unidos recentemente. Coletânea de histórias feitas pelos mais diversos artistas, a publicação é uma escolha perfeita para iniciar esse processo, visto que serve como um verdadeiro porto para novos artistas serem conhecidos pelo grande público.
Ainda sim, existem problemas a serem solucionados pela HQM envolvendo a própria estrutura da revista. Concebida em um mercado bem estabelecido e de alto poder de consumo, a Dark Horse Apresenta nunca precisou organizar suas histórias em relação a um tema ou qualidade da história oferecida para fazer sucesso, algo que no Brasil é indispensável - só observar como a Panini, que criou essa tendência por aqui, organiza seus mixes em torno de temas ou personagens. Torna-se difícil para um leitor brasileiro, portanto, acompanhar o ritmo nada coerente elaborado pela sequência de obras inseridas, que variam da violência à fofura e do excelente ao fraco - Sem contar a entrevista com Frank Miller, que merecia uma revisão mais detalhada na edição brasileira.
Isso não prejudica, entretanto, que estas histórias sejam prejudicadas por esse "defeito de adaptação". De nomes importantes a completos desconhecidos, os roteiros e as artes de Dark Horse Apresenta agradam a todos os tipos de gostos, abrangendo um maior público no processo; para os conservadores existe o trabalho internacionalmente reconhecido de Neal Adams e Paul Chadwick, para os experimentalistas as histórias de Michael T. Gilbert e Carla Speed McNeil, e etc. Até para quem não gosta de quadrinhos a revista se faz interessante, a exemplo do conto peculiar Que Interessante: Um Homem Minúsculo, de Harlan Elison.
É neste ritmo "anárquico" que a Dark Horse Apresenta começa no Brasil. Diversificada e abrangente, a publicação da HQM torna-se mais uma série mensal fora da curva para os leitores brasileiros explorarem o universo dos quadrinhos, além de ser um reinício acertado para a Dark Horse no país. São necessários ajustes, claro, mas sua importância pode ser tão crescente como o mercado nacional é nos dias de hoje.

Review: Orange is the New Black - 2° Temporada

Detentas de Litchfield ganham maior destaque no segundo ano da série

Por Pedro Strazza

A prisão funciona no cinema e na televisão como uma representação simplificada do mundo. Responsável pela reforma moral dos indivíduos que quebraram as leis básicas do convívio social, o sistema carcerário é interpretado pela sétima arte como um lugar onde seus habitantes (os prisioneiros) possam estabelecer relações e conflitos primitivos entre si, sendo que inconscientemente suas ações reflitam a sociedade a que foram privados. Dessa forma, a abordagem da produção sobre a penitenciária pode ir do suspense à comédia sem parecer estranha, visto a teatralidade do ambiente escolhido.
Orange is the New Black é uma série que soube entender muito bem esse conceito. Em sua primeira temporada, o seriado adotou um tom mais cômico para mostrar a prisão federal feminina de Litchfield a partir do ponto de vista da protagonista Piper Chapman (Taylor Schiling), uma mulher condenada ao encarceramento devido a um erro do passado e transformada pela população habitante de dentro das grades. Para continuar sua trama no segundo ano, porém, a produção preferiu inserir novas dinâmicas e personagens a manter o rumo proposto em sua estreia, algo que rapidamente provou-se ser um acerto.
[A partir deste ponto, pesados SPOILERS sobre a segunda temporada de Orange is the New Black. Se ainda não viu ou não terminou de ver, pare por aqui.]
As alterações já começaram a ocorrer logo no início da temporada com a falsa transferência de Chapman para outra prisão. Separando a protagonista das outras prisioneiras, a série pode mostrar em seus dois primeiros episódios que seria possível manter a história sem a necessidade de Piper, pois a prisão e seus "cidadãos" se tornaram o foco do seriado. O roteiro, assim, pode então desenvolver, nos capítulos restantes, a linha narrativa de sua "ex"-personagem principal sem necessariamente precisar envolvê-la com o cotidiano da penitenciária, e por consequência tornou Chapman em mais uma das mulheres encarceradas em Litchfield.
Com essa decisão, o segundo ano pode ressaltar ainda mais a principal qualidade de Orange is the New Black: as detentas. Presas em Litchfield pelos mais variados motivos, essas personagens foram melhor exploradas pela série nesta temporada, que, além de investigar os motivos para elas estarem ali, aprofundou-se na real personalidade de várias prisioneiras através dos flashbacks - agora melhor utilizados ao exibirem fatos que construíssem melhor a personagem no episódio - e de suas relações na penitenciária. A prática dessa metodologia trouxe os melhores episódios da temporada, como os que se aprofundaram nas vidas de Lorna Morello (Yael Stone), Suzanne "Crazy Eyes" Warren (Uzo Aduba), Rosa (Barbara Rosenblat) e Poussey (Samira Wiley).
Ao mesmo tempo em que trabalhava suas personagens já estabelecidas, a série trouxe ainda novidades interessantes no elenco. As entradas de Soso (Kimiko Glenn) e Vee (Lorraine Toussaint) na penitenciária promoveram mudanças interessantes na dinâmica social das detentas - Principalmente Vee, que além de fazer crescer a rixa entre espanholas, negras e brancas criou uma briga pessoal com Red (Kate Mulgrew) pelo controle do contrabando.
Mesmo que perdendo um pouco de sua centralidade na trama, Piper manteve importância para a série. Agora incorporada a Litchfield, Chapman teve um maior contato com a prisão e seus defeitos ao perder, em grande parte da temporada, seu contato com o exterior ao encerrar seu relacionamento com Larry (Jason Biggs), além de perceber a sua real paixão por Alex (Laura Prepon), ausente na temporada após ter sido liberada da pena. Piper sofreu mais um crescimento pessoal nesta temporada, e continua seu processo de metamorfose na penitenciária.
Mas se no núcleo das prisioneiras a série acertou a mão, fora deste os resultados foram inconstantes. Enquanto o lado administrativo da prisão e sua corrupção - algo que infelizmente não ocorre apenas em Litchfield e é uma realidade em grande parte dos presídios - ganhou um ótimo foco nesta temporada com o confronto entre Figueroa (Alysia Reiner) e Caputo (Nick Sandow), o núcleo de pessoas relacionadas a Piper do lado de fora das grades pareceu em muitos momentos superficial e bobo. Apesar de bem trabalhado, o relacionamento de Larry com Polly (Maria Dizzia), por exemplo, ficou extremamente mal situado em relação ao que acontecia na prisão, gerando a sensação errônea de enrolação em muitos momentos.
Mesmo que contando com pequenos problemas, Orange is the New Black mostrou um ótimo crescimento entre a primeira e segunda temporadas. O segundo ano, mesmo que finalizado de forma muito simples visto os acontecimentos apresentados, mostrou ao público que a série é capaz de ser pautada por personagens além de Chapman e de ser realista em sua proposta. Afinal, na visão da série, quem se encarrega de reeducar ou não as prisioneiras não é o sistema carcerário, mas sim as próprias detentas que integram o sistema.

Nota: 9/10

Marvel anuncia Fase 3 nos cinemas e U-A-U

Demorou, mas finalmente aconteceu. Em evento especial realizado no cinema El Capitan, em Los Angeles, a Marvel Studios anunciou hoje para o mundo toda a sua INCRÍVEL agenda da chamada Fase 3 nos cinemas, que vai até o primeiro semestre de 2019. No planejamento do estúdio, vários rumores se confirmaram, incluindo projetos e até escolhas de elenco, mas houveram MUITAS surpresas!
Vamos ao calendário:

  • Em 2016, chegam às telonas Capitão América 3 - GUERRA CIVIL(!!!) e Doutor Estranho, respectivamente nos dias 6 de maio e 4 de novembro;
  • Para 2017, a Marvel vem pela primeira vez com três filmes no cardápio: Guardiões da Galáxia 2 (5 de maio), Thor - Ragnarok (28 de julho) e Pantera Negra (3 de novembro);
  • No ano de 2018, novamente uma trinca de filmes, agora com Vingadores - Guerra Infinita: Parte 1 (4 de maio), Capitã Marvel (6 de julho) e Inumanos (2 de novembro);
  • E em 2019, a Marvel fecha sua terceira fase nas telas com a segunda parte de Vingadores - Guerra Infinita, que sai no dia 3 de maio.
Outro anúncio importante feito por Kevin Feige (presidente da Marvel Studios - e agora do mundo nerd) na ocasião foi a oficialização de Chadwick Boseman como intérprete do Pantera Negra, que além de ter confirmado seu filme solo e sua participação no terceiro capítulo da história de Steve Rogers ganhou uma primeira imagem conceitual de seu visual nos cinemas:

domingo, 14 de dezembro de 2014

Crítica: Sonic Highways (Foo Fighters)

Novo disco de Dave Grohl e seus bluecaps justifica todo o alvoroço do pré-lançamento

Por Guilherme Umeda

Dave Grohl (eu o chamo de Davinho), meu parça há muito tempo concordou em me passar todas as músicas do Sonic Highways por mensagem de voz no whats (Se mordam de inveja das minhas amizades, haters), contanto que eu escrevesse um texto sobre o álbum. Portanto, como sou um homem de palavra, presenteio você, caro leitor, com essas belas palavras.
Entretanto, antes de falar sobre o disco em si, acho válido um pouco de contexto.
Sonic Highways é o oitavo álbum de estúdio do Foo Fighters (FF) e chega às mãos dos fãs após quatro anos de silêncio desde o lançamento de Wasting Light.
É óbvio que qualquer álbum dos FF já causaria ansiedade no público fã de rock, mas a aproximação do lançamento deste causou uma histeria a mais. E não por acaso.
A declaração dada por Grohl (Davinho) em entrevista à revista New Music Express (NME), em que dizia que “Sonic Highways é o mais perfeito que podemos ser”, foi um fator que esquentou ainda mais os fãs. Mas não foi o único.
O incomum processo de composição das oito faixas que compõem o álbum ganhou espaço na programação do canal HBO. A série, que leva o mesmo nome do disco, acompanha a banda numa viagem pelos EUA, contando como cada faixa do Sonic foi escrita.
Sonic Highways, de fato, merecia uma série de TV. Para compor as oito faixas que compõem o álbum, a banda viajou por oito cidades (Austin, Chicago, Los Angeles, Nashville, New Orleans, Nova Iorque, Seattle e Washington) e, em cada uma delas, escreveram uma das músicas. Não é a toa que o disco foi chamado pela NME de “uma carta de amor à música americana”.
Além da série na HBO e das entrevistas de Grohl, o Foo Fighters passou uma semana se apresentando todas as noites no Late Show With David Letterman (o Programa do Jô original), como forma de promover o álbum. Abaixo você pode ver o vídeo da entrevista de Dave Grohl no programa em uma dessas cinco noites, onde ele conta um pouco mais sobre o processo de composição para o Sonic - e, de quebra, ainda tem o FF tocando “War Pigs”, do Black Sabbath, com Zack Brown no fim do vídeo.
Pois bem, chega de contexto. Vamos ao disco.
Em todas as faixas o virtuosismo que Davinho sempre teve para casar letra e música se faz presente.
Não há nenhuma faixa que destoe muito do padrão de qualidade (alto, diga-se de passagem) estabelecido logo de início pela primeira faixa, “Something From Nothing”. Pelo contrário, logo na faixa seguinte, o padrão é superado com “The Feast and The Famine”.
Essas duas faixas, além de já serem uma amostra da satisfação que o ouvinte irá encontrar também nas outras seis músicas, também são prelúdio da pegada firme que dá o tom ao álbum. Se trata, sim, de “fist bumping rock n’ roll” do início ao fim.
Porém, é possível (se você, caro leitor, for uma pessoa chata como quem vos fala) encontrar falhas em Sonic Highways. A principal delas talvez seja a penúltima música, “Subterranean”. Ela é a que chega mais perto de quebrar a vibe do disco. Não por ser uma música ruim – longe disso – mas é um pouco incerta, talvez errante: parece não saber ao certo se é uma balada ou não.
Como dito antes, o álbum é bem marcado por músicas rápidas e pesadas. Mas uma balada seria muito bem vinda, principalmente naquele momento mais para o final do disco, justamente por ser aquela hora pra descansar os ouvidos um pouco. Daí a crise com a indecisão de “Subterranean”.
Entretanto, a carência de uma balada seria sanada logo em seguida com “I Am a River”, a última faixa do disco. Esta sim, mais decidida quanto à sua personalidade, se apresenta de forma belíssima e encerra a experiência que é Sonic Highways de forma quase perfeita.
Dentre as oito músicas, há três que merecem menção honrosa.
Primeiro, “The Feast and The Famine”. É a música do álbum que vai garantir o momento “lose your mind” nos shows do FF. O refrão é o mais explosivo do álbum e o ritmo é feito para pular e gritar enquanto se ouve.
Depois, “Outside”. Nesta, o lado instrumental chama atenção. As guitarras foram arranjadas de forma belíssima e o solo mais para o final é aquele momento para fechar os olhos, encostar a cabeça no travesseiro e curtir. Se tivesse um refrão um pouco mais forte seria a melhor música do álbum.
Esse título, no entanto, ficou com “In The Clear” (na modesta opinião deste mero mensageiro que vos fala). É o melhor encaixe letra/melodia do álbum. Consegue estabelecer uma continuidade no que é cantado (uma ótima letra) que não deixa o ouvinte escapar. Muito disso pelas marcações que Taylor Hawkins (bateria) faz nos pratos logo antes de Dave cantar o nome da canção. Brilhante.
Sonic Highways é mais pesado que o anterior dos FF, o Wasting Light, e tem menos momentos para cantar junto (afinal, Wasting tinha “Walk”, “Arlandria” e “These Days”). Porém, o mais recente me pareceu melhor no conjunto. Talvez até por ter apenas 8 faixas (o anterior tinha 11), Sonic tenha se mostrado mais capaz de manter o ouvinte “flutuando” numa só vibe durante o disco todo. Wasting tinha mais craques, mas Sonic é mais time.

Nota: 9/10

Crítica: As Aventuras de Paddington

Primeira incursão de personagem no cinema carece de coragem narrativa

Por Pedro Strazza

Na extensa galeria de protagonistas emblemáticos da literatura infanto-juvenil britânica, o urso Paddington tem certo destaque. Criado no final dos anos 50 pelo escritor Michael Bond, o imigrante peruano atrapalhado que vive com a família Brown é a estrela de uma série de livros que até hoje tem novos volumes publicados e público interessado. A fama é tão boa que o personagem ganhou nos cinemas um filme em live-action, contando com um elenco invejável e efeitos visuais para recriá-lo na telona.
Por ser a primeira incursão do urso no formato, As Aventuras de Paddington tem por objetivo principal introduzir o protagonista, sua história e as pessoas com que relaciona para os espectadores, e faz isso sem muitos problemas. Na trama, após uma sequência trágica de acontecimentos, Paddington (Ben Wishaw) se vê obrigado a se mudar sozinho da floresta onde vivia com o tio (Michael Gambon) e a tia (Imelda Staunton) para a Inglaterra. Em um país estranho e totalmente diferente de sua rotina, ele busca encontrar um lar com um explorador que há muitos anos visitou seus parentes, e para isso conta com a ajuda da família Brown.
Como longa infantil, o filme encanta pela diversão simples que proporciona. Das peripécias de Paddington - que muitas vezes remetem às loucuras visuais de As Aventuras de Tintin - aos exageros das atuações do elenco muito bem montado, a aventura escrita por Paul King (também diretor aqui) e Hamish McColl possui em seu âmago um humor leve e descompromissado, típico das produções do gênero, mas muito bem aplicado graças à simpatia do protagonista. E isso não se restringe apenas ao núcleo principal, como bem pode-se ver nas gags periféricas recorrentes ou no vizinho mal-humorado vivido por Peter Capaldi.
O clima de comédia "rasa mas gostosa", porém, não oculta do filme a sua falta de coragem para explorar de forma simples assuntos ousados. O drama do imigrante vivido por Paddington, por exemplo, é usado pelo roteiro apenas para unir o urso com os Brown e dar o pontapé à história, mas com poucos movimentos na narrativa poderia ser um dos grandes temas a guiar os rumos do protagonista. E se no enredo é ausente essa maior audácia, na direção King é bastante procedural e óbvio, experimentando planos holandeses sem nenhum sucesso em um ou dois momentos.
Afim apenas de apostar no garantido para apresentar um clássico personagem da literatura, As Aventuras de Paddington de certa maneira é um acerto por conseguir realizar na tela seus objetivos iniciais. A falta do algo a mais em suas intenções, entretanto, o impede de deixar a categoria de produção para passar o tempo e ser algo mais marcante e de valor para seu público, tanto para crianças quanto para adultos.

Nota: 7/10

Crítica: O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos

Capítulo final evidencia tanto erros quanto acertos de toda a trilogia

Por Pedro Strazza

Há um tempo (mais exatamente no final dos anos 90), o cineasta George Lucas e sua Lucasfilm anunciaram que Star Wars enfim ganharia mais uma trilogia, passada antes dos eventos dos três primeiros filmes. A notícia atingiu o mundo de maneira brutal, e a grande legião de fãs foi assistir A Ameaça Fantasma com uma empolgação absurda, almejando ver na telona uma história de proporções similares aos longas dos anos 70/80. O resultado chocou: Além de trazer no primeiro capítulo uma trama simples, Lucas deixou claro no filme a preferência pelo arroubo visual que permearia a nova trilogia, investindo muito mais em cenários exuberantes e batalhas de impacto que em um roteiro de personagens e situações complexas.
De certa forma, a escolha tomada por Lucas lá atrás não é tão diferente da feita por Peter Jackson neste começo dos anos 2010 com O Hobbit. Responsável por adaptar com excelência a trilogia de livros O Senhor dos Anéis para a grande tela, Jackson resolveu dividir a história de 300 páginas em três filmes de mais de duas horas cada, visando na teoria acrescentar à aventura de Bilbo vários contos de J.R.R. Tolkien e conseguir maior arrecadação nas bilheterias para custear a sua mais nova e ambiciosa produção. Na prática, o que se viu em cena nos dois primeiros filmes foi uma dedicação homérica de tentar encantar mais pela ação que pelos eventos, um desbalanceamento claro do equilíbrio entre trama e espetáculo da primeira trilogia - algo irritante, óbvio, para fãs da franquia.
Mas se em Uma Jornada Inesperada e A Desolação de Smaug viu-se certo acanhamento do diretor nessa questão, em A Batalha dos Cinco Exércitos é evidente que ele enfim resolveu fazer da história apenas um espetáculo. Como bem indica no título, o terceiro capítulo de O Hobbit gira primordialmente em torno de um conflito gigantesco, gerado pela derrocada do dragão Smaug (Benedict Cumberbatch) e a questão de quem assumirá o comando da Montanha Solitária. Anões, humanos, elfos, orcs... todas as raças da Terra-Média estão envolvidas na disputa, e uma guerra de grandes dimensões se instaura no local.
E com tanto tempo disponível (são duas horas e vinte cinco minutos de duração), o que se vê na produção é justamente isso: um épico. Aliado à fotografia de Andrew Lesnie, bastante balanceada entre o deslumbramento dourado de Uma Jornada Inesperada e o clima sombrio de A Desolação de Smaug, e os efeitos visuais da sempre eficaz Weta Digital, Jackson enquadra a batalha e seus combatentes com precisão, e se utiliza de todo o seu aprendizado nos outros cinco filmes - o estilo de luta característico de cada facção, os planos aéreos, a ação em duas frentes - para gerar uma verdadeira exibição de cenas de grande porte. Não à toa, o que se vê no terceiro O Hobbit é uma sucessão de ações super-humanas semelhante à continuidade de um show, em que cada evento parece merecedor de aplausos.
O desenvolvimento da ação visual, porém, não esconde de A Batalha dos Cinco Exércitos os seus problemas graves na trama. O roteiro elaborado por Fran Walsh, Philippa Boyens, Guillermo Del Toro e Jackson parece não se incomodar mais em deixar mal explicado várias passagens e acontecimentos, e até deixa em aberto vários desfechos de personagens, como os de Tauriel (Evangeline Lilly) ou de Saruman (Christopher Lee), denotando clara dependência do longa na trilogia do Senhor dos Anéis - algo que novamente remete aos trabalhos de Lucas, cuja nova trilogia só funciona com os três Star Wars originais vistos. É evidente o erro de esticar o conto em três capítulos cinematográficos, pois mais do que nunca falta conteúdo em um filme baseado em uma obra de Tolkien.
Outro ponto grave na narrativa são os personagens, que além de aparecerem e desaparecerem ao bel-prazer da história - e alguns são incluídos sem qualquer necessidade, como é o caso de Alfrid (Ryan Gage) - são elaborados sem nenhum fundamento. Só observar, por exemplo, a trajetória final de Thorin (Richard Armitage), que varia seu humor sem qualquer motivo por causa da "doença do dragão" (outro ponto muito mal explicado e usado sem pretexto algum) e chega a absurdos como ir da alegria à raiva em um take. E sem essa substância, as boas atuações do vasto e primoroso elenco são bastante prejudicadas.
Com certa ironia, é curioso pensar que O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos reflete em seu conteúdo toda a trilogia elaborada por Peter Jackson nesses últimos três anos. É um trabalho visualmente arrebatador, com efeitos deslumbrantes e ação bastante eficiente, mas ao mesmo tempo possui um interior vazio, gerado por personagens mal desenvolvidos por um roteiro apoiado exclusivamente no emocional de uma trilogia, essa sim, brilhante. Para Jackson, assim como Lucas, vale muito mais no prelúdio um espetáculo impressionante que um filme bem trabalhado. Uma pena? Sim, claro.
Mas que é um baita de um espetáculo...

Nota: 9/10


Crítica: Homens, Mulheres e Filhos

De uma forma (bem) geral, a reflexão no cinema acontece em três fases. Na primeira, a obra apresenta ao público uma história a ser seguida, com personagens e um mundo estabelecidos logo em seu início. Na segunda, o longa começa a mostrar eventos que de algum jeito alterem o status quo das pessoas ou do universo (pequeno ou grande) onde vivem, fazendo assim com que sua rotina mude drasticamente. Por fim, o filme gera durante ou ao final da jornada traçada pelos indivíduos envolvidos um desenvolvimento sobre um tema (abstrato ou concreto, político ou emocional...) presente na sociedade, e esta elaboração transforma em caráter decisivo o(s) personagem(s).
Se a produção segue à risca essa linha de raciocínio e trabalha bem esses três momentos, as chances de seu sucesso aumentam de maneira considerável. E se o comando do longa estiver a cargo de um bom cineasta, o procedimento é simples e de fácil execução.
Considerando tudo isso, é duro ver que Homens, Mulheres e Filhos, o novo trabalho do ótimo diretor Jason Reitman, se perca justamente no terceiro momento de sua reflexão acerca da relação entre a humanidade e a tecnologia. O filme, afinal, elabora muito bem seus personagens e os desdobra em situações que englobem o assunto proposto de forma natural, mas não consegue levar tudo isso a uma ponderação mais interessante e profunda.
Baseado no livro escrito por Chad Kultgen, o roteiro escrito por Reitman e Erin Cressida Wilson acompanha a história de cinco jovens e suas respectivas famílias, cada um representando algum tipo de vício na internet e suas redes sociais. Estão lá os viciados em pornografia online (Travis Tope), os que querem fama a qualquer custo (Olivia Crocicchia), os desejosos de escapar da realidade dura e cruel (Ansel Elgort), o casal atrás de emoções fora do casamento (Adam Sandler, Rosemarie DeWitt), a mãe ultra protetora de seu filho quanto a todo perigo oferecido pelo mundo lá fora (Jennifer Garner)... são personagens de dramas bastante reais, e o diretor filma seus desejos e aflições buscando aproximá-los do espectador.
E isso ele faz muito bem. Como já havia mostrado nos excelentes Juno e Amor Sem Escalas, Reitman é excelente para desenvolver os indivíduos que acompanha em seus filmes, dotando-os de uma sensibilidade característica e apaixonante. Não à toa, a maior força de Homens, Mulheres e Filhos reside nesse ponto: Todos as pessoas apresentadas são interessantes ao público, que por sua vez os acompanha de maneira voluntária e sem precisar de maiores informações.
Mas toda a boa composição inicial dos personagens parece ter sido feita para nada na hora de abordar o tema da produção. Mesmo suficientemente cativantes, seus caminhos trilhados não evocam uma reflexão maior sobre seus vícios tecnológicos, e quando eles o fazem (de forma pontual), soam tão rasos quanto as redes sociais que se utilizam. Só observar, como exemplo, a adolescente obcecada com a fama interpretado por Crocicchia, cuja preocupação com o sucesso virtual não consegue ser explorado pelo diretor em cena para discutir os efeitos da popularidade sem motivo e do excesso de confiança no ser humano - algo que só é arranhado com muita leveza (e aqui aviso que há pequenos SPOILERS do longa) quando ela tenta transar com o viciado em pornografia e não consegue (e repare como Reitman enquadra, somente por um segundo, sua reação ao ver o garoto tentando se estimular sem sua ajuda).
Não deixa de ser interessante o fato de que Homens, Mulheres e Filhos possua uma profundidade similar aos sites de relacionamento que aborda. Ao invés de se enveredar por um tema tão difícil e complexo, o filme busca apenas a diversão proporcionada pelas histórias que conta, e isso seria o bastante para uma produção sem muitas ambições. O problema aqui, porém, é que há ambições na direção de Jason Reitman. Elas só não se concretizam.


Nota: 6/10

Editorial: Os 5 anos do O Nerd Contra-Ataca


O que pode acontecer em 5 anos? Tá aí uma pergunta fora do habitual. Na loucura que é o cotidiano de nossas vidas, é estranho parar tudo o que você está fazendo e refletir sobre algo tão bobo como a passagem de um período de tempo nem curto nem grande. Afinal, nossos planos habitualmente se resumem a tarefas habituais e rotineiras (fazer as compras no supermercado, ir almoçar, encontrar os amigos...), e no máximo pensamos em projetos que se concretizarão em até um ano ou dois, como realizar uma viagem ou ir em um evento especial. Claro, os sonhadores existem por aí, mas eles nunca tem uma meta definida nos mínimos detalhes possíveis.
Quando criei O Nerd Contra Ataca, por exemplo, meus planos com ele eram mínimos, pouco ambiciosos e, pra falar a verdade, bem ridículos: arranjar um local para escrever sobre tudo aquilo que via, lia ou jogava no meu dia-a-dia, relatando minhas opiniões sobre filmes, séries, games, quadrinhos e música(!) com base nenhuma sobre nenhum dos assuntos - e, se tudo desse certo, ganhar uma graninha com isso. O sonho era bastante possível (ou pelo menos era isso que achava no auge dos meus 14 anos), o tempo disponível existia, e, claro, o ego era enorme para achar que conseguiria falar decentemente sobre tudo - eu tinha 14 anos, pô!
Assim um blog começou, em um longínquo mas ainda próximo 14 de dezembro de 2009, com muita euforia e alegria de um inocente que achava que ia mudar o mundo escrevendo para um site próprio (sim, isso acontece com todo mundo que topa entrar nessa loucura) e um post inicial dos mais babacas e presunçosos do planeta - algo natural para uma criança que, como o Jon Snow de Game of Thrones ou o inocente dito pelo Cumpádi Washington (é assim que se escreve, né?), não sabe de nada. E dessa maneira as coisas foram indo, um post de cada vez, e numa dedicação não tão fora do normal mas existente o blog foi crescendo. Textos foram escritos e editados, ideias foram executadas e obtiveram resultados diversos, reformulações foram aplicadas, layouts foram testados, o nome ganhou uma correção ortográfica tardia mas merecida...
...e o tempo passou, desapercebido. E agora O Nerd Contra-Ataca completa nada menos que cinco anos no dia 14 dezembro de 2014 (ok, certeza que o catorze é uma espécie de número cabalístico do site). Um número, convenhamos, relativamente grande, e que reflete um pouco do trabalho que foi realizado por aqui. Em exatos 1826 dias (lembrem que há um ano bissexto na conta), publiquei por aqui 629 textos, incluindo críticas, colaborações de amigos (aos quais agradeço imensamente pelo tempo gasto), rankings, dicas, "desrecomendações" (Não achei um termo melhor, desculpa), tentativas de fazer notícias e outras coisas das quais não me lembrarei. Tudo isso compartilhado num blog que já tem perfil próprio em redes sociais como o Facebook e o Twitter (siga a gente lá, por sinal!). E o mais incrível não foi o tempo que gastei fazendo o blog funcionar como deveria, mas sim como todos os textos falam sobre um único e gigantesco assunto: a cultura pop e nerd.
Esse caminho, claro, não foi de todo tranquilo. Erros, falhas e quase desistências (bastante tentadoras por sinal) ocorreram ao longo dos anos, e eles ainda acontecem e irão ocorrer por toda a existência deste pequeno site. Eles são inevitáveis, mas pelo menos posso afirmar que agora eles serão combatidos com uma dedicação muito maior. O Nerd Contra-Ataca tem cinco anos, afinal das contas, e está na hora de promover algumas mudanças para seu melhor desempenho - mas isso eu comentarei melhor daqui um tempo.
Com tudo isso dito, gostaria de afirmar nesta data tão feliz e importante do site que é um grande prazer escrever nesse lugar tão pequeno e aconchegante para pessoas que conheço e não conheço. Transportar em palavras minhas opiniões sobre a cultura pop e nerd nunca foi e nunca será um empecilho, e cada pessoa que leu qualquer texto meu ou de outro publicado por aqui já é uma recompensa valiosa.
Por isso agradeço a você, leitor, pelo tempo que tomou para ler esta e outras publicações do O Nerd Contra-Ataca. Seja você novo ou antigo (ou até aquele que chegou agora e tá olhando com cara de interrogação pra esse editorial) no site, jovem ou idoso, homem ou mulher, saiba que é um prazer informar você sobre o que acontece nesse mundo irado que são o cinema, a televisão, o videogame, os quadrinhos e até a música.
E sobre a pergunta que fiz lá em cima, eu com certeza responderia "Muita coisa. Mesmo".

Abrações,
Pedro Strazza